Atributos primários e secundários de avaliação – descrição
1 Introdução
Os atributos (e métricas) que adotamos para a avaliação das análises podem ter natureza quantitativa ou qualitativa, bem como podem ser associados a marcadores estilísticos (ver Capítulo sobre Estilo Musical).
Buscando um refinamento, classificamos os atributos em três categorias básicas, primários, secundários e terciários (em desenvolvimento). As principais diferenças entre essas categorias se encontram nos seus respectivos graus de complexidade e detalhamento, bem como no quanto contribuem para evidenciar questões e demarcações estilísticas. Assim, enquanto os atributos secundários são potenciais definidores de estilo, os primários, ainda que importantes, não apresentam, tão marcadamente essa capacidade (apenas se vistos em conjunto). Na verdade, os atributos secundários, por assim dizer, “revisam” atributos primários a eles correspondentes, examinando-os de outras perspectivas, em geral mais amplas e, ao mesmo tempo, detalhadas. Podemos ainda considerar, de um modo um pouco mais livre, que os atributos secundários evidenciam os contextos nos quais os atributos primários se inserem. Por sua vez, atributos terciários podem ser vistos como uma espécie de sintonia fina dos secundários, tendo como principais características a natureza eminente quantitativa e o fato de considerarem todo o conjunto de cada um de seus atributos (enquanto os secundários envolvem mais seus aspectos qualitativos).
2 Critérios de nomenclatura para atributos primários e secundários1
Os atributos primários e secundários são agrupadas internamente em relação aos domínios (harmonia e melodia),2 a níveis de organização e a aspectos específicos desses níveis. Para uma rápida identificação, os aspectos são rotulados de acordo com a fórmula “mXnp”, onde m é o número que indica o nível do atributo – primário (m = 1) ou secundário (m = 2) –, X é a letra que representa o domínio considerado (H, para harmonia, M, para melodia), n é o número do nível em questão (n = 1, 2, 3 ou 4) e p é uma letra sequencial em caixa baixa identificadora do aspecto específico (p = a, b, c, d, …). Assim, por exemplo, o rótulo 1H3b corresponde a um atributo estilístico primário (1) vinculado ao domínio da harmonia (H) associado ao terceiro nível (3, que é referente aos tipos acordais), considerando o segundo aspecto (b, que se refere à categoria funcional mais recorrente dentro do corpus em análise).
3 Atributos primários
Por hipótese, os atributos primários evidenciam especialmente (mas não apenas) elementos estruturais compartilhados por compositores pertencentes a um determinado superconjunto estilístico. Foram definidos 35 atributos primários, 19 associados ao domínio harmônico e 16 ao domínio melódico. São as seguintes suas descrições básicas:
3.1 Atributos primários harmônicos
1H1 – nível das tonalidades (contém cinco aspectos):
- 1H1a – informa o número de tonalidades distintas empregadas dentro de cada corpus (bem como o percentual diante do total possível – 24), incluindo principais e secundárias (ou seja, aquelas obtidas por modulação interna).
- 1H1b – identifica a tônica mais recorrente. Por convenção, maiúsculas indicam tonalidades maiores (DÓ, SOL etc.) e minúsculas as menores (ré, si♭ etc.). O atributo indica ainda o percentual de sua ocorrência.
- 1H1c – informa a distribuição percentual das tonalidades principais em modo maior.
- 1H1d – informa a distribuição percentual de peças monotônicas (em oposição às pluritônicas).
- 1H1e – identifica a relação binária tonal (RBT) mais recorrente, incluindo sua frequência percentual.
1H2 – nível das funções (contém dois aspectos):
- 1H2a – identifica a categoria funcional mais recorrente, incluindo sua distribuição percentual.
- 1H2b – identifica a relação binária funcional (RBF) mais recorrente, incluindo sua distribuição percentual.
1H3 – nível dos tipos acordais (contém três aspectos):
- 1H3a – informa o genus de tipos acordais mais recorrente, incluindo sua distribuição percentual.
- 1H3b – identifica o tipo acordal mais recorrente, incluindo sua distribuição percentual.
- 1H3c – identifica a relação binária abstrata (RBA) mais recorrente, incluindo sua distribuição percentual.
1H4 – nível dos acordes específicos (contém quatro aspectos):
- 1H4a – informa a distribuição percentual de acordes em estado fundamental (em relação aos invertidos).
- 1H4b – informa o número de acordes específicos distintos empregados.
- 1H4c – identifica o acorde específico mais recorrente, incluindo sua distribuição percentual.
- 1H4d – identifica o movimento intervalar de baixos mais recorrente entre acordes contíguos, incluindo sua distribuição percentual.
3.2 Atributos primários melódicos
1M1 – nível das notas-funções (contém quatro aspectos):
- 1M1a – identifica o grau escalar mais recorrente, considerando os modos maior e menor, informando seus percentuais em relação ao total de casos.
- 1M1b – identifica a categoria de nota-função mais recorrente (neste caso, englobando ambos os modos), informando sua distribuição percentual.
- 1M1c – identifica a nota-estrutural mais recorrente (englobando ambos os modos), informando sua distribuição percentual.
- 1M1d – informa o índice de ancoragem (ia) médio do corpus.
1M2 – nível do contorno melódico (contém cinco aspectos):
- 1M2a – identifica a c-letra mais recorrente, informando sua distribuição percentual.
- 1M2b – identifica a c-palavra mais recorrente, informando sua distribuição percentual.
- 1M2c – identifica a cardinalidade de c/r palavra mais recorrente, informando sua distribuição percentual.
- 1M2d – informa o índice de economia intervalar (iE) médio do corpus. .
- 1M2e – informa o índice de economia intervalar compensada (iEc) médio do corpus. .
1M3 – nível do ritmo (contém quatro aspectos):
- 1M3a – identifica o ponto de ataque mais recorrente do perfil métrico, informando sua distribuição percentual.
- 1M3b – identifica a r-letra mais recorrente, informando sua distribuição percentual.
- 1M3c – identifica a r-palavra mais recorrente, informando sua distribuição percentual.
- 1M3d – informa o índice de contrametricidade (ic) médio do corpus.
4 Atributos secundários
Os atributos secundários são essencialmente revisões (ou detalhamentos) de alguns atributos primários, de maneira a permitir a evidenciação de características peculiares de um(a) determinado(a) compositor(a) (ou de um pequeno grupo de compositores) em relação a um contexto estilístico mais amplo. Exposto de outro modo, enquanto atributos primários tendem a agrupar corpora (e os estilos composicionais a eles associados) formando superconjuntos, os secundários agem principalmente na segregação desses subconjuntos, tendendo a promover fronteiras estilísticas entre compositores. Além dessa diferença, ao contrário do que acontece com os primários, os atributos secundários geralmente são vinculados a hipóteses, a partir de conhecimentos informais pré-existentes.
4.1 Atributos secundários harmônicos
2H1 – nível das relações tonais (contém três aspectos):
2H1a – informa a quantidade de relações binárias tonais (RBTs) distintas em cada corpus. A princípio, não é associado objetivamente a uma hipótese, tendo em vista que uma diversidade de RBTs não implica necessariamente maior complexidade. Os próximos atributos atuam nesse sentido, na busca de qualificar os tipos de relações e apresentar hipóteses mais consistentes.
2H1b – compara a distribuição das relações binárias tonais da superclasse “notáveis” com o restante do universo. Por hipótese, RBTs “não notáveis” são mais empregadas no contexto estilístico da MPB do que as “notáveis”. Assim, uma predominância de RBTs “notáveis” em um determinado corpus tenderia, potencialmente, a “afastá-lo” do subconjunto-alvo.
2H1c – examina em maiores detalhes os conteúdos das superclasses, considerando a distribuição de sete classes de RBTs, as “notáveis” HOM, REL, D/SD e as “não notáveis” MED, QUA, STM, TOM, TRI. Por hipótese, a predominância da classe MED é um indicativo de pertencimento ao subconjunto-alvo, ou seja, um marcador estilístico centrípeto (ver capítulo sobre estilo musical).
2H2 – nível dos tipos acordais (contém quatro aspectos):
2H2a – informa a quantidade de tipos acordais (TAs) distintos em cada corpus, bem como seu percentual em relação ao total, de acordo com o modelo GTA (ver capítulo sobre os modelos teóricos). Por hipótese, a diversidade de TAs seria um possível marcador centrípeto (também em relação ao subconjunto JAZZ).
2H2b – compara a distribuição dos conteúdos dos 10 genera de tipos acordais. Por hipótese, uma alta recorrência dos genera triádicos V, v em relação aos demais se torna um marcador estilístico centrífugo. Inversamente, uma distribuição mais significativa dos genera Z, z (independentemente dos demais) indicaria um marcador centrípeto. No entanto, este aspecto também seria característico do subconjunto JAZZ, demandando observações complementares para o refinamento da análise.
2H2c – compara as distribuições relativas de protoacordes e variantes acordais, agrupados. Por hipótese, o estilo MPB se caracteriza por uma significativa presença de tipos acordais variantes, em relação aos protoacordes, o que não se observaria tão intensamente no subconjunto JAZZ, constituindo , portanto, um possível fator diferenciador entre os dois contextos.
2H2d – refina o atributo 2H2c, diferenciando protoacordes e variantes de acordo com os respectivos genera.
2H3 – nível das funções (contém cinco aspectos):
2H3a – informa a quantidade de categorias funcionais distintas em cada corpus e o respectivo percentual considerando o total de categorias adotadas (73). Por hipótese, a diversidade de categorias seria um marcador estilístico centrípeto (também em relação ao subconjunto JAZZ).
2H3b – compara a distribuição de 12 classes (e/ou subclasses) mais significativas de categorias funcionais, a saber, DIA, DS, SubV, DIM, D-pte, EC1 e EC2.
2H3c – refina o atributo 2H3b, examinando os conteúdos de cada classe, em separado.
2H3d – compara as classes de relações binárias funcionais, ou RBFs de alto-nível (DIA|DIA, CR|DIA, DIA|CR, CR|CR). Por hipótese, integrantes do subconjunto-alvo e do subconjunto JAZZ apresentariam distribuições significativas das classes que envolvam a categoria CR. A separação dos dois subconjuntos neste atributo requererá, por certo, exames e discussões suplementares.
2H3e – dispõe a distribuição das relações binárias funcionais de alto nível (considerando as classes de RBFs ver capítulo dos Modelos Teóricos.
4.2 Atributos secundários melódicos
2M1 – nível das notas-funções (contém quatro aspectos):
2M1a – informa a distribuição das notas diatônicas em cada corpus, considerando os modos maior e menor. Não há hipóteses previamente associadas a este atributo.
2M1b – informa a distribuição das inflexões melódicas em relação às notas-estruturais. Não há hipóteses previamente associadas a este atributo.
2M1c – compara as distribuições das superclasses de notas-estruturais (básicas \(\times\) tensões). Por hipótese, a presença significativa de tensões é um forte marcador centrípeto para os subconjuntos MPB e JAZZ.
2M1d – detalha o atributo 2M1c, considerando as classes de notas-estruturais (tríade, tétrade, tensões simples e tensões alteradas). Por hipótese, melodias do subconjunto-alvo apoiam-se, em média, mais em tensões do que aquelas provenientes do subconjunto JAZZ e, significativamente, mais ainda do que as do superconjunto.
2M2 – nível das alturas (contém dois aspectos):
2M2a – compara as distribuições das classes básicas de c-letras (u, P/p, A/a, S/s) em cada corpus. Não há hipóteses previamente associadas a este atributo.
2M2b – detalha o atributo 2M2a, comparando as distribuições das c-letras em cada corpus. Não há hipóteses previamente associadas a este atributo.
2M3 – nível do ritmo (contém três aspectos):
2M3a – compara as distribuições dos perfis métricos dos corpora. Por hipótese, membros do subconjunto-alvo (especialmente aqueles que apresentam, em maior ou menor medida, influências do gênero SAMBA) se diferenciarão dos membros do subconjunto JAZZ por ocorrências de ataques mais significativa nos pontos 4 e 10.
2M3b – informa as distribuições de r-letras contramétricas (c, e, g, m, n, p, u) em cada corpus, incluindo sua presença percentual em relação ao todo das r-letras. Por hipótese, membros do subconjunto-alvo (especialmente aqueles que apresentam, em maior ou menor medida, influências do gênero SAMBA) se diferenciarão dos membros do subconjunto JAZZ pela massiva ococrrência de r-letras contramétricas.
2M3c – informa as distribuições de r-letras “tercinais” (d, f, i, k, o, s) em cada corpus, incluindo sua presença percentual em relação ao todo das r-letras. Não há hipóteses previamente associadas a este atributo.